Zoneamento Agroecológico do Estado do Tocantins

Metodologia

O Estado do Tocantins, com 278.420,7 km², foi dividido em unidades ambientais hierarquizadas e caracterizadas por uma identidade estrutural e funcional. Elas representam situações equiproblemáticas e equipotenciais em termos de desenvolvimento e preservação. Essa compartimentação do espaço geográfico baseou-se na análise das relações existentes entre seus principais componentes: rochas, relevo, solos, topografia, rede de drenagem, clima, dinâmica da paisagem, vegetação natural e uso atual das terras. Ela foi efetuada de acordo com os princípios da Teoria Geral de Sistemas, do Modelo de Divisão da Paisagem Física de Bertrand (1968) e da Ecodinâmica (Tricart & Kilian, 1979). O processo de compartimentação espacial partiu da divisão proposta pelo IBGE (1995) para os domínios morfoclimáticos, detalhada pelos autores em termos de regiões ecológicas, setores e unidades agroecológicas (Miranda & Bognola, 1998).

O zoneamento exigiu a mobilização de instrumentos cartográficos e numéricos modernos. Foi estruturado um amplo sistema geográfico de informações (SGI), com mais de 300 cartas digitais, organizadas em 25 projetos, um para cada uma das folhas 1:250.000. As cartas - digitalizadas, atualizadas ou geradas pela Embrapa Monitoramento por Satélite - foram: limites administrativos, geologia, geomorfologia, pedologia, bacias hidrográficas, declividades, erodibilidade potencial dos solos, precipitações, temperatura, regionalização climática, cobertura vegetal potencial e uso atual das terras. A estruturação do SGI em planos temáticos deu origem a vários planos intermediários de informação, também valorizados na elaboração do zoneamento. O sensoriamento remoto aerotransportado e orbital foi amplamente utilizado ao longo, os tanto sensores óticos (multiespectrais) dos satélites LANDSAT e NOAA/AVHRR, como os de microondas (radar). Todos esses recursos mobilizados estão inventoriados na Nota Técnica.

 

UNIDADES MAPEADAS

O primeiro nível hierárquico do zoneamento agroecológico foram os domínios morfoclimáticos. Compartimentação física de maior abrangência espacial, eles englobam amplos modelados geomorfológicos decorrentes de aspectos maiores da geologia, principalmente da geotectônica. Eles resultam da ação dos climas, em íntima associação com a hidrologia. A história páleo-geográfica e climática da área é a responsável pela existência de cinco domínios morfoclimáticos no Estado do Tocantins (IBGE, 1995):

I) Domínio dos Planaltos e Depressões do Centro-Leste do Estado (bacias sedimentares páleo-mesozóica e meso-cenozóica) representando 37,22% da área estadual;

II) Domínio dos Planaltos e Depressões do Interflúvio dos Rios Tocantins e Araguaia (faixas de dobramento do proterozóico médio e superior - 34,62% do Estado;

III) Domínio da Ilha do Bananal (bacias sedimentares cenozóicas - 8,64% do Estado);

IV) Domínio das Morrarias e Depressões do Alto Paranã (complexos metamórficos e seqüência vulcano-sedimentar do arqueano e proterozóico inferior - 17,90% do Estado);

V) Domínio das Planícies do Tocantins e Araguaia (azonal das áreas aluviais) cobrindo1,62% do Estado, ao longo desses eixos hidrográficos.

O segundo nível hierárquico do zoneamento agroecológico foram as regiões ecológicas. Elas constituem compartimentações próprias da paisagem física de um domínio morfoclimático e registram as diferenciações, existentes em cada caso, baseadas principalmente no contexto geomorfológico (natureza das rochas e dos mantos superficiais, valores dos declives, dinâmica das vertentes, processos morfogenéticos dominantes etc.). As 28 regiões ecológicas mapeadas refletem portanto, o arranjo estrutural do relevo, bem como o seu potencial ecológico (natureza, extensão e padrões dos ecossistemas existentes).

O terceiro nível hierárquico do zoneamento agroecológico, os setores agroecológicos, constituem compartimentações naturais de uma região ecológica. Eles resultam de uma relação dinâmica entre os fatores pedológicos (processos pedogenéticos dominantes, profundidade efetiva dos solos, textura dos horizontes, consistência, erodibilidade dos solos, saturação por bases etc.), morfológicos e a vegetação predominante. As classes de solos, a disposição destes na paisagem, a vegetação natural e a ecodinâmica constituem a espinha dorsal dos 90 setores agroecológicos mapeados.

O quarto nível hierárquico do zoneamento agroecológico, as unidades agroecológicas completam a classificação e a compartimentação territorial do Estado do Tocantins. Elas são a menor unidade espacial cartografada na escala do trabalho e representam áreas fisionomicamente homogêneas de um setor agroecológico, em geral com um mesmo grau de estabilidade morfopedogenética. Cada uma das 212 unidades agroecológicas mapeadas representa uma entidade morfopedológica na qual aptidão agrícola das terras e dinâmica do potencial de erodibilidade dos solos constituem uma problemática bastante homogênea.

 

ECODINÂMICA DAS UNIDADES MAPEADAS

O estudo ecodinâmico foi fundamental para definir os limites que o meio ambiente oferece ao uso e ocupação do Estado do Tocantins. A dinâmica das formas que compõem a paisagem é essencial para avaliação dos riscos de degradação que uma determinada atividade ou utilização das terras poderá ocasionar. Morfogênese e pedogênese são fenômenos complexos, mas podem ser sintetizados em sistemas morfopedogenéticos, constituídos por um conjunto análogo de processos que consomem energia e agem sobre o fluxo ou ciclo de matéria. A erosão por escoamento hídrico superficial, os processos de perda ou acúmulo de material, a deflação pelo vento ou os movimentos de massa, p. ex., são realidades morfogenéticas que têm seu centro nos processos de transporte. Esses têm sua eficiência intrínseca definida pela natureza do material. O tamanho e a massa das partículas definem a competência dos processos de transporte. Ao mesmo tempo, processos de preparação (biofisicoquímicos) são fundamentais para desagregar rochas e gerar partículas mobilizáveis. Portanto, um sistema morfopedogenético associa processos de preparação e processos de mobilização e transporte.

Entre os principais fatores influenciando esses processos preparação, mobilização e transporte estão a energia solar e gravitacional (de onde a importância das declividades) e a vegetação ou o uso atual das terras. A influência da vegetação é determinante no destino e efeitos do fluxo de energia. Quando a energia é absorvida ou dissipada pela vegetação (p. ex., raizes aumentando a coesão dos agregados do solo ou o recobrimento foliar interceptando as gotas de chuva), os processos pedogenéticos dominam sobre os morfogenéticos, dando origem a formação do complexo argilohúmico, característico de meios estáveis. Na situação oposta, domina a morfogênese. A compartimentação e a classificação das unidades territoriais do Estado do Tocantins, pelos autores deste zoneamento, buscou ser o resultado dessa análise ecográfica e ecodinâmica. Ela considerou os graus de estabilidade (pedogênese) ou instabilidade (morfogênese) das paisagens, situadas em domínios e regiões (tipos de relevo) que traduzem uma perspectiva cronológica das formações superficiais (morfogênese mais ou menos longa ou antiga).

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